Furtaram nossas bikes numa vila italiana! Mas aqui é Brasil, mermão, e a gente recuperou as magrelas por nossa conta e risco

Hoje faz dois anos que essa história aconteceu. Como o Facebook me lembrou dela, achei que era justo trazê-la pra cá. Afinal, ela é boa demais pra gente deixar morrer… :)

O título original do Facebook era:

O DIA EM QUE FURTARAM NOSSAS BIKES EM GALLIERA (cidade de 3 mil habitantes, na região italiana da Emilia-Romagna) – E A GENTE AS RECUPEROU POR NOSSA CONTA E RISCO!

Passamos a semana toda planejando ir a um festival de cerveja ontem, em Bologna. Nosso trem para lá partiria às 18h02. Como sempre, saímos de casa em cima da hora. Chegamos à estação faltando cerca de 5 minutos para o trem chegar. Larguei minha bike com o João e corri comprar as passagens.

Quando já estava do outro lado da plataforma, ouvi meu marido dizer: “A chave do cadeado ficou com você.”

Não dava tempo de ele buscar comigo e voltar prender. Gritei: “Deixa aí, vamos confiar na humanidade. Ninguém vai roubar.” (ou algo do tipo)

Quem roubaria essas duas crianças felizes, não é mesmo?

Fomos para Bologna, tivemos uma noite divertidíssima tomando boas cervejas artesanais e conversando sobre tudo e sobre nada, e pegamos o último trem de volta pra casa, às 23h48.

A verdade é que os dois estavam mais pra lá do que pra cá (cada um de nós tomou 4 chopps, de níveis elevados de graduação alcoólica), mas ainda lembrávamos que nossas bikes pau para toda obra (uma custou 30 euros, a outra, 50) tinham ficado soltas no paraciclo da estação.

Assim que descemos do trem, disse pro João: “só consigo ver a sua bike”. Mas tá, né, a gente sabia que corria esse risco. Passamos por baixo da estação e no caminho escutamos o sininho clássico da bike dele. Nos olhamos e falamos: “f*. Levaram ela também!”

Mas a gente sabia que os ladrõezinhos não podiam ter ido longe. Saímos da estação atentos, andamos cerca de 1km, até que vimos uma aglomeração de adolescentes bebendo e rindo da burrice alheia. 

Na hora identifiquei a bike do João. Caminhamos confiantes na direção deles. Assim que chegamos lá, vi que a minha bike estava ali também. Tinha um casaco no guidão dela e um menino estava sentado dando aquela navegada no Facebook enquanto eu me aproximava.

Gritei: “questa bici è mia!”, tirei o casaco do guidão, joguei na cara dele e subi na MINHA BICICLETA, dei as costas e saí pedalando feliz da vida.

Vaza, haole! Questa bici è miaaaa. Aqui é Brasil, mermão!

João fez a mesma coisa com a dele e, pela primeira vez na vida, mandou um palavrão em italiano.

Eles nem esboçaram reação. A gente saiu se sentindo vitorioso e hoje, cada vez que me lembro da cena, dou uma risada gostosa lembrando a sensação de vitória e uma história que espero nunca esquecer. 

PS: Hoje à tarde, estivemos na praça da cidade e dois adolescentes riam olhando para nós. Certeza que eram membros da ganguezinha playboy que só queria dar uma zoada num sábado à noite. Mas quem ri por último ri melhor, né?