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Whitby: cultura, boa comida, terror e belas paisagens no norte da Inglaterra

Algumas histórias demoram um pouco mais que deveriam para serem contadas, mas não por isso perdem seu valor. E hoje é dia para uma dessas.

Há exatamente um ano estávamos viajando pelo norte da Inglaterra. Os primeiros episódios dessa aventura foram contados nos links abaixo.

Havíamos ficado devendo o relato da continuação da viagem. Mais precisamente a passagem por Whitby, cidade que havia sido indicada pelo James, dono da casa em que morávamos.

Tem um álbum cheio de fotos de Whitby no nosso perfil no Google+. Clique aqui para ver!

O James é um velejador de 60 anos que tem até foto ao lado do príncipe Charles em um festival de barcos na sala de casa. Ele ganha a vida conduzindo barcos turísticos por ilhas gregas durante o verão e como caixa de supermercado em Londres durante o restante do ano. Vai entender…

Quando soube que iríamos para a região de York, nosso landlord recomendou que visitássemos Whitby, uma de suas cidades preferidas na velha England. Não foi difícil confiar na sugestão de quem vive do mar, ainda mais que eram apenas 75km de viagem a partir de York.

Sabíamos pouco sobre a cidade além de que era reconhecida pelo fish and chips. A indicação do James foi mesmo nossa maior inspiração, mas que o fish and chips ajudou, ah ajudou. =)

Whitby é uma pequena e simpática cidade de pouco mais de 13 mil habitantes. Fica no nordeste da Inglaterra, a 414km de Londres, no condado de North Yorkshire, à beira do Mar do Norte.

O vilarejo está “montado” sobre dois costões, sendo que em um dos lados está as ruínas da Whitby Abbey, principal ponto turístico da cidade.

A abadia foi erguida no ano de 657, como um mosteiro anglo saxão. O estado em ruínas de hoje se deve a alguns episódios que ajudam a contar um pouco da riquíssima história da região:

  1. Ataques vikings no século IX.
  2. Ordens do rei Henry VII em 1540 durante o período conhecido como a Dissolução dos Mosteiros, quando o o rei se tornou Chefe Supremo da Igreja na Inglaterra.
  3. Ataques alemães em 1914 durante a Primeira Guerra Mundial.

Estivemos lá no auge do inverno e, infelizmente, estava fechada para visitação. Ainda assim, pudemos caminhar pela área externa, que conta com um cemitério que seria um cenário perfeito para um filme de terror.

Aliás, um grande clássico da literatura também deve sua fama a Whitby. Foi lá, durante suas férias, que o escritor irlandês Bram Stoker se inspirou para escrever a história do Conde Drácula. A vista da sombria catedral que tinha de onde estava hospedado teria sido a grande responsável pela ideia de escrever o futuro clássico. Whitby, inclusive, é citada na obra. Achei isso um tanto fantástico!

Rola um tour The Dracula Experience. Não fizemos, mas o link deles está no fim do post.

Passeando na praia

Do alto da colina da catedral descemos até a praia. A maré baixa permitiu que a gente caminhasse por uma passarela que vai uns 100 metros mar adentro.

Teria dia melhor pra uma prainha? ;)
Um pequeno memorial para lembrar os entes queridos
Pessoinhas em baixo
Pessoinhas em cima
Pessoinnhas no meio

O legal de Whitby é que em um dia você consegue andar por ela de ponta a ponta tranquilamente, ver e viver um pouco da pacata vida de uma vila pesqueira inglesa.

O melhor fish and chips da Inglaterra?

De volta ao centro, já era hora de almoçar.

Por estar à beira do mar, nada mais justo do que ser uma terra conhecida pela sua tradição em fish and chips. É de Whitby, inclusive, o melhor fish and chips de 2014 na Inglaterra. O The National Fish and Chips Awards 2014 foi para o restaurante Quayside.

Mas nós acabamos indo em outro. Havíamos lido uma declaração do chef Rick Stein, um bam bam bam que até já cozinhou para Tony Blair na cozinha da casa 10 da Downing Street, residência oficial do primeiro ministro britânico, que disse que o fish and chips do Megpie “abriu os olhos dele sobre o quão bom um estabelecimento de peixe com batatas deveria ser.” Fomos na dele e não nos arrependemos.

Como bons frequentadores de pubs que somos, o fish and chips está entre nossas iguarias inglesas preferidas. E, na boa, o do Megpie estava simplesmente fantástico. Crocante, saboroso e sequinho, sem aquele banho de óleo que é bem comum de encontrar. E pelo que li, tem muita coisa boa por lá além do fish and chips. Ponto para a carta de cervejas. Bebemos cervejas incríveis da região de Yorkshire no restaurante.

Da janela, vista pra Whitby Abbey
A TV mostra, em tempo real, que peixe está disponível no momento em que você está no restaurante


O fish and chips grande saiu por £11.95 e o pequeno por £9,95. A garrafa de cerveja local da cervejaria The Great Yorkshire Brewery foi a £3.95. Preços honestíssimos para uma refeição top e com uma vista linda.

Whitby: terra de um mestre da navegação

Depois do almoço, seguimos para a colina oposta à da catedral. Por lá, há uma estátua em homenagem ao capitão Cook, um dos grandes nomes da navegação britânica. Dentre diversas façanhas náuticas, ele comandou o HMS Endeavour, primeiro navio da história a chegar à costa leste australiana, em 1770. Cook foi para Whitby com 17 anos para receber seus primeiros treinamentos e morou ali por alguns anos. Há até um museu na cidade sobre o cara.

Moradores orgulhosos ou não?

Um café digníssimo de uma lista top qualquer coisa

Depois de admirar a vista do lado de cá da cidade, já pelo meio da tarde, que no inverno inglês significa noite chegando, fomos caminhar pelas ruelas do centro. A temperatura devia estar girando os 2ºC e aquela chuvinha fina insistiu em nos acompanhar o dia todo.

Foi quando achamos, ao acaso, um café sensacional. Possivelmente o mais incrível que já pisei. Logo na entrada o ambiente quentinho, misturado com o cheiro de café fresco e bolo saindo do forno nos fez crer que estávamos no paraíso. Ainda mais quando olhávamos pela janela.

O Sherlocks explodiu nossa cabeça. Sério. A decoração do lugar parecia cenário de filme. Três andares completamente diferentes um do outro que nos fizeram viajar no tempo. Olha só se não dá vontade de ficar o dia todo ali.

Casa de princesa

Procurei mais informações sobre a história da casa, mas infelizmente não achei nada. Arrisco dizer que se um dia você ver uma lista do Buzz Feed com os 30 cafés mais incríveis do mundo ele tem tudo pra estar lá. ;)

Saímos do café já bem satisfeitos com o dia que havíamos tido. E como a noite vinha chegando, corremos para o píer pra ver a cidade do ângulo que ainda faltava, fazer mais umas fotos e curtir a orquestra das gaivotas.

Era hora de pegar o carro e voltar para Pickering, nossa base, 35km distantes dali. Mas essa é história pra outro dia.

Pra encerrar a história de hoje, uma curiosidade: eu costumava jogava futebol em Londres com um inglês, e a gente sempre conversava sobre viagens. Quando falei que havíamos passado por Whitby o queixo dele caiu. Disse que a mãe dele é nativa e residente de lá. Ele não conseguia entender que motivo um casal de brasileiros teria para conhecer aquele fim de mundo.

Curioso como são as percepcções, experiências e raízes de cada um. Saímos de lá apaixonados enquanto um quase local faz de tudo pra passar longe da cidade.

Ainda deu tempo de passar na lojinha de souvenir e comprar um barquinho de presente para o James. Foi legal ver que ele o deixou na sala da casa, onde senta todos os dias para seu chá. Whitby deixa saudades.

Em homenagem ao passeio de hoje. Cheers! :) #beer #nottinghill #porter #London

A photo posted by Natasha Schiebel (@nah_schiebel) on

Pra ajudar na sua viagem

Álbum completo de fotos de Whitby

Referências

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