A vez em que eu pedalei 500 km entre o Natal e o Ano Novo

Em 2009, um inglês chamado Graeme Raeburn quis aproveitar o tempo livre entre o Natal e o Ano Novo para viver como um ciclista profissional. Ele se desafiou a pedalar 1.000 km entre os dias 24 e 31, ano em que a Inglaterra teve um inverno congelante – nas palavras dele: “não temos muitos natais com neve, mas 2009 foi um deles.” 

O motivo para realizar a missão?

“Apenas porque pensei ser uma distância razoável”, conta o ciclista. Graeme completou o desafio, mas ao final, sentiu que era uma distância desnecessária, antissocial e mais punitiva do que festiva.

Ele trabalha como designer na Rapha, uma marca inglesa que em 2004 iniciou sua história produzindo roupas e acessórios para ciclistas, mas que hoje, mais do que uma marca, é uma comunidade global de apaixonados pelo ciclismo de estrada.

Como especialista em marketing de conteúdo, tenho o trabalho deles como referência. As histórias que a Rapha escreve e compartilha são lindas, bem como a forma como envolve sua comunidade nos quatro cantos do mundo e cria produtos e serviços que vão desde meias, passam por cafeterias, clubes e viagens épicas. Se você gosta de estudar marcas, posicionamento, branding, conteúdo e empreendedorismo, assista The Rafa Why.

rapha festive 500

Nascia uma tradição

Foram os insanos 1.000km de Graeme e uma cultura empresarial que entende, vive e respira sua comunidade que inspiraram a marca a criar, em 2010, o Rapha Festive 500, um desafio anual cujo objetivo é “reunir” ciclistas do mundo todo e motivá-los a concluir a metade dos km de Graeme no mesmo período, distância que, segundo os idealizadores do #Festive500, foi considerada “mais alinhada com o que alguns profissionais, de fato, fazem e mais sensata, mais atrativa/realizável”.

Empatia é fundamental

No primeiro ano apenas 94 ciclistas participaram. Mas não demorou para o charme do evento, o desejo de superar um desafio numa época atípica e o marketing da Rapha transformarem o giro de fim de ano em uma tradição seguida por milhares de ciclistas em todo o planeta.

Em 2016 foram 82.374 mil inscritos. Nem todos concluíram, é verdade, mas isso é o que menos importa. Os dados completos do desafio do ano passado ainda não saíram, mas em 2015, de 72 mil inscritos, pouco mais de 13 mil finalizaram. 

Rodar 500 km em oito dias significa manter uma média de 62,5 km por dia, durante os oito dias. Algo desafiador, mas administrável para quem tem uma rodagem no esporte.

ciclismo de longa distância

Eu estive entre eles

Estou longe de ser um atleta que compete em alto nível, mas tenho um bom ritmo de pedal. Participei de dezenas de provas de mountain bike com distâncias entre 30 km e 60 km nos últimos seis anos e, em 2016, concluí duas provas de estrada memoráveis de 200 km, organizadas pelo Audax Curitiba.

Mas mesmo tendo uma quilometragem razoável no currículo, honestamente não achava que conseguiria atingir a meta. Eu nunca havia pedalado tanto por tantos dias seguidos antes. Isso, somado ao fato de que que tinha Natal e fim do ano velho no meio de tudo, me deixou na defensiva. Eu sabia que teriam que ser sete, talvez seis dias de bike. Ainda assim, decidi me desafiar.

Era algo que eu precisava e que fazia parte de um projeto pessoal de ser um melhor realizador do que idealizador. Tenho um péssimo hábito de ter muitas ideias para projetos, mas acabo largando muita coisa pelo caminho. Isso tem me incomodado muito ultimamente. Concluir o Festive 500 era, portanto, uma etapa importante desse plano de mudança/evolução.

O esporte ensina muito sobre a vida e nos faz mais fortes mentalmente

Essa aventura especificamente, que foi dura na mesma proporção que foi gratificante, me ensinou bastante. E sobre diversos “temas”: como lidar com a dor, planejamento, os benefícios práticos e diretos de uma alimentação equilibrada, foco, sonhos, corpo, mente e vida. Aprendi, também, sobre porque fazer loucuras é fundamental para manter a sanidade.

Resumindo, foi uma “viagem” de autoconhecimento.

mountain bike - desafio dos rochas
Desafio dos Rochas, prova que acontece anualmente no entorno de Pomerode-SC, cidade que faz parte do Vale Europeu

Quer saber o que eu aprendi e, claro, se eu consegui concluir os 500 km?

Eu registrei todos os dias que saí pra pedalar com a GoPro. Ao fim, editei um documentário com o resumo da jornada.

E hoje quero compartilhar essa história com você. Espero que goste e que, de alguma forma, o vídeo te inspire. Não falo só sobre o pedal, mas também sobre coisas que acredito e revelo uma grande novidade do blog. Dá o play: 

Feliz Ano Novo. Que em 2017 você tenha muita saúde e motivos pra sorrir.

P.S: Deixa um comentário aqui ou no YouTube dizendo o que achou do vídeo? Seu feedback é fundamental pra gente encontrar a melhor forma de compartilhar nossas histórias com você.  

Quer ler mais histórias sobre ciclismo, cicloturismo e viagens?

Copenhagen: como a bicicleta definiu um destino de viagem

pra ver no mundoA bicicleta é um objeto um tanto curioso. A gente costuma ter o contato com ela nos primeiros anos de vida e, em linhas gerais, isso dura uma infância ou talvez até os primeiros anos de adolescência.

No auge de seus seis anos a Nah era a rainha do pedal
No auge de seus seis anos a Nah era a rainha do pedal

Aí, na maioria dos casos – e isso inclui o meu – deixamos a magrela de lado. O brinquedo acaba perdendo seu encanto e anos se passam sem que lembremos que ela exista.

Até que um dia, lá pelos 20 e tantos você decide comprar uma bike pra ver se aquela sensação do vento no rosto e de ser o seu próprio combustível pode voltar a ser divertida como foi lá atrás…

E aí você começa a pedalar nos fins de semana…E  vai percebendo que as distâncias não são tão longas como parecem, que você pode deixar o carro em casa pra ir ao mercado comprar uma pasta de dente e umas cervejas, que fazer a feira de sábado de bicicleta é uma terapia e que até aquela reunião no centro da cidade se torna mais produtiva e divertida quando você não tem que encarar um trânsito estúpido.

E, também, descobre o cicloturismo:

pedal morro do canal
Pedal da Piazada nos arredores de Curitiba. Ao fundo, o Morro do Canal

E, à parte disso, você descobre um universo paralelo que existe em razão da bike. Empresas que nasceram por e para a bicicleta como a EcoBike Courier e a Kuritbike , só pra citar dois grandes exemplos lá de Curitiba.

Nesse ponto você já tem certeza que o encanto e a magia da infância pulsam mais forte do que nunca! =)

9 coisas que a bicicleta me ensinou

  • Que de nada adianta reclamar do trânsito quando você é ele;
  • Que o carro tem uma boa parcela de culpa em muitas loucuras que vemos e vivemos nas grandes cidades;
  • Que o mundo e a saúde de amanhã a gente constrói hoje;
  • Que trocar as noites de sábado pelas manhãs de pedal no domingo é impagável;
  • Que existe muita gente boa demais vivendo por e pela bicicleta no mundo;
  • Que pedalar traz alegria, saúde e um mundo melhor;
  • Que minha cidadania se faz presente nas minhas atitudes;
  • Que viajar dentro de sua própria cidade pode ser tão incrível quanto ir para qualquer lugar do mundo;
  • Mas que escolher seu próximo destino de viagem por causa da bike cedo ou tarde vai acontecer!
dia de greve
Meus 20 centavos: dia de futebol tinha greve dos motoristas e cobradores do transporte público. Imagina o trânsito da cidade que tem a maior média de carros por habitantes no Brasil e o quanto eu me diverti… =)

Por que Copenhagen?

copenhagen - carros e bicicletas

Nossa primeira viagem para fora do Reino Unido em nosso projeto Londres 2013/2014 já estava definida antes mesmo de virmos pra cá. Copenhagen foi a escolhida por livre e espontânea pressão deste que vos fala. =) Sempre sonhei em ver de perto como é a melhor cidade do mundo para pedalar!

Copenhagen está longe de ser uma das cidades mais procurados da Europa. Não está entre as 20 mais visitadas no continente e nem entre as 100 no mundo segundo a Euromonitor International. Ela não tem nenhum ponto turístico  mundialmente famoso e pouco ouvimos falar dela, não é?

Eu até diria que a cidade pode te decepcionar se você não for muito ligado na questão da bicicleta ou se for sua primeira viagem para a Europa…quer dizer, isso depende muito do que você curte ver numa cidade como viajante…mas isso é papo pra outra hora.

pedalando em copenhagen

O povo mais feliz do mundo

Recentemente os dinamarqueses foram eleitos o povo mais feliz do mundo pela ONU .  Não vou entrar nos detalhes disso agora, mas se você ficou curioso o Visit Denmark tenta explicar aqui os porquês.

Falei sobre isso com o Benjamin, o camarada que nos recebeu por lá com sua esposa Tine através do Couchsurfing. Na visão dele toda essa felicidade se explica pela ausência de preocupações que se tem por lá. Em outras palavras, a felicidade dos dinamarqueses é medida pela confiança no governo, passa pelos sistemas de saúde e educação impecáveis, taxa de crimes quase inexistente, dinheiro no bolso  e pelo sol da meia noite no verão.

Ele não citou, mas eu incluiria na lista o motivo que há um bom tempo me fazia querer conhecer Copenhagen.

centro de copenhagen

A cidade das bicicletas em vídeo

Copenhagen é uma esperança viva para os sonhadores que acreditam em cidades mais humanas, feitas e pensadas para as pessoas, não para carros ou para atender os interesses desse ou daquele.

Uma cidade em que apenas 14% dos deslocamentos diários para o trabalho ou escola são feitos de carro e que tem como meta diminuir isso ano após ano é muito mais do que um exemplo a ser seguido.

Os detalhes sobre a relação de Copenhagen com a bicicleta a gente mostra nesse vídeo. Dá pra entender um pouco mais do que é aquele universo mágico de Copenhagen:

Vamos falar mais sobre nossa viagem pra Copenhagen futuramente. Temos algumas boas dicas. =) Até lá, peço desculpas por sair um pouco do foco viajante.

Mas uma coisa que aprendi viajando é que cada cidade que você conhece tem algo a te acrescentar como cidadão. E foi por isso que eu fiz questão de compartilhar essa experiência com você.

Como já dizia o Real Coletivo Dub, banda curitibana que ilustra a trilha do vídeo, Sozinho nós vamos mais rápido. Juntos nós vamos mais longe.

Um agradecimento especial à galera do Real por autorizar o uso da música “Eu Vou de Bike” como trilha do vídeo!

bicicletas em copenhagen

Quer ver mais fotos?

Disponibilizei um álbum em nosso perfil no Google+ com várias fotos de bicicletas em Copenhagen. Vai  ver e aproveita pra nos seguir por lá também. E não esquece de preencher o formulário pra entrar na nossa lista de e-mals e receber os futuros posts e novidades sempre em primeira mão. =)

Para saber mais

Cidades Para Pessoas: projeto fantástico da jornalista Natália Garcia