Como o home office está nos levando de volta pra Londres

Quando os seis meses que passamos em Londres acabaram, em outubro de 2010, falamos pra nós mesmos: vamos voltar um dia!

Acho que todos que passam por uma experiência fora do país acabam falando isso. Mas o problema é que falar é fácil. Fazer, não é tão simples assim. Ao menos pra nós não foi…

Londres vai fazer com que você um dia volte
Londres vai fazer com que você um dia volte

Em Curitiba, após Londres, a vida seguia, mas o tal itchy feet e a depressão pós-Londres, que a Nah já contou aqui, incomodavam.

Tanto que fomos morar por quatro meses em Buenos Aires pouco depois que voltamos pra casa. A vida porteña foi o estalo que faltava para percebermos que a tal coceira nos pés pra viajar era algo muito forte.

La Boca, Buenos Aires
La Boca, Buenos Aires

Um estilo de vida

Esses 10 meses que passamos fora do Brasil entre 2010 e 2011 nos fizeram muito bem.

No clichê: amadurecemos como cidadãos e profissionais. Nos tornamos um casal mais unido. E sabíamos que essa coisa de viajar era pra sempre!

Foi aí que começamos a sonhar em viver algo que hoje tento chamar de um estilo de vida semi nômade. Mas como?

Como viver fora do país sem ter que encarar os chamados sub-empregos? Nada contra, sério! Respeito e admiro demais quem rala pra ganhar a vida de forma honesta e dedicada, seja na área que for!

Tento explicar: tanto eu como Natasha nos formamos jornalistas. E somos apaixonados por essa arte de juntar letrinhas.

Ver o mundo, tentar aprender um pouco de muito e muito de pouco. Transmitir informação e conhecimento. Ajudar pessoas a partir de coisas que você gosta e entende! Isso é um pouco do que resume o Jornalismo pra mim. E seria muito triste, tanto pra mim como para a Nah, ficar longe de tudo isso.

Como conseguimos exercer nossa profissão nessa condição viajante?

Foi em 2010, poucos meses antes de embarcarmos para Londres, que nossa vida de jornalistas autônomos começou. E foi aí que o home office entrou em nossas vidas.DSC_0102

Eu era assessor de imprensa de uma consultoria de investimentos. A Nah produzia conteúdo para o blog de uma revista, também do mercado financeiro. Trabalhávamos em Curitiba, de casa.

Sem muito pensar, planejar ou temer que a grana não daria levamos nosso escritório para o Velho Continente. Aviso: planejamento é fundamental. Mas vai dizer isso pra dois jovens recém formados e doidos pra cair na estrada?

Em Londres, trabalhávamos muito! E o fuso prejudicava, pois precisávamos estar conectados de acordo com o horário da BMF & Bovespa e todas as suas agudas e eternas crises.

Com o pregão fechando às 18h em São Paulo, em Londres, era só lá pelas 23h que começávamos a fechar o escritório.

Apesar das jornadas de trabalho por vezes dignas da Revolução Industrial, essa experiência foi demais! Na época não havíamos percebido, mas Londres nos proporcionava ao maior estilo inglês de ser, discreta e eficiente, uma nova forma de vida!

Nascia o estilo de vida semi nômade

Morávamos em Londres. Trabalhávamos para empresas brasileiras. E funcionava!

A lição que ficou foi: atender clientes oferecendo serviços jornalísticos, com qualidade, em qualquer lugar do mundo, era possível.

Em nossas cabeças não fazia mais sentido correr atrás de um emprego com carteira assinada sendo que podíamos ter o mundo como jardim.

London, baby
scilla, calábria, itália
Por do sol em Scilla, na Calábria. Vivemos lá por 15 dias com o escritório a plenos vapores

O desafio

Estava em nossas mãos criar os mecanismos pra fazer isso acontecer. Foi nesse contexto e alguns outros projetos freelas depois, que surgiu a LondonPress. A empresa que hoje é corresponsável por nos levar ao UK novamente.

Em dois anos de atividade ralamos e penamos muito. Continuamos fazendo isso, claro. Mas, hoje, com clientes satisfeitos, reconhecimento e respeito do mercado e, acima de tudo, realizados profissionalmente!

Grana é parte ou consequência disso tudo. Ela pode não vir sempre, mas  manter o foco no que você é bom ajuda e atrai!

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A LondonPress

Levamos Londres no nome da nossa empresa pela mais óbvia e honesta homenagem que poderíamos fazer. Nossas vidas passaram por uma completa ruptura a partir daqueles seis meses de 2010. A cidade nos uniu, nos fez crescer, nos mostrou que poderíamos trabalhar juntos e ter mais qualidade de vida. Devíamos essa homenagem a Londres. ;)

Agora, estamos voltando pra lá por uns meses para dar uma atenção maior ao Pra Ver Em Londres – e para você que nos acompanha há tanto tempo.

Vamos fazer valer nossa missão de ajudar pessoas a viajar mais, melhor e gastando menos! Com a LondonPress na mala junto com a saudade do Piva.

Atualização em 2019: Hoje, nossa empresa se chama Handmade Content. :) Mudamos o nome no ano passado, para adequar ao novo momento que vivemos profissionalmente.

Pivair, o nosso Piva, em uma dura tarde de trabalho

Faltam poucos dias para o embarque! Um novo tempo de descobertas e desafios gigantes vem aí!

Até lá, fica aquela estranha sensação do medo combinado com a ansiedade e a perspectiva de ver novos sonhos acontecendo, além do pensamento “tem tudo pra dar certo, mas na pior das hipóteses teremos passado mais alguns preciosos meses de nossas vidas na cidade mais incrível do mundo”. E isso, por si só, vale a viagem! =)

Londres
Londres acontecendo…

Por que escrevi esse texto

Gosto muito de conhecer histórias inspiradoras de gente que foi na contramão do tradicional pra ser mais feliz.  Como as contadas nos vídeos do continuecurioso.

E sei que tem muita gente que sonha em viver de forma remota. Ou viver viajando.

Eu e a Nah temos o privilégio de ter cursado Jornalismo, que, apesar de não ser a profissão mais lucrativa do mundo, é capaz de proporcionar isso tudo que estamos vivendo hoje. Mas a tecnologia é aliada de todos. É possível que você possa atuar de forma remota em sua área. Estude, bote a cabeça pra funcionar e mãos à obra.

Um grande sonho move sua vida! Cabe a você ter calma, sabedoria, paciência, foco e determinação pra fazê-lo acontecer!

E desencana desse negócio de “chegar lá”, “alcançar o sucesso”. Isso é bobagem. Correr atrás disso é que é a grande diversão da vida.

Seja a mudança que você quer ver no mundo

Dicas de Home Office

O GoHome reúne muita informação sobre home office. Foi criado pelo André Brik e pela Marina Sell Brik, um casal aqui de Curitiba. Ele designer, ela jornalista. Eles começaram com um blog há algus anos e hoje têm livro publicado sobre o assunto e fazem muitas coisas legais! Certamente podem te ajudar e te inspirar. O André escreveu o artigo 7 coisas que todo mundo precisa saber sobre home office. Vale a leitura!

Também recomendo a leitura do livro Trabalhe 4 horas por semana. É uma espécie de manual da vida remota. Bastante inspirador! O Efetividade tem um post bem legal sobre a obra.

A linda e pitoresca Bath: o Império Romano no UK

Sempre ouvimos muito sobre Bath. Coisas como “a cidade é linda” ou “vocês TÊM que ir”. Então, num dia desses nos programamos pra mais uma day trip – como são boas essas trips bate-volta. :)

Os preços das passagens de trem nos horários mais convenientes não eram muito atrativos: £28,50. A gente também não estava muito animado pra passar quase 4h em um ônibus – que tinha preço a partir de £5.

Mas como consumidores conscientes que somos, seguimos em busca de uma pechincha e pesquisamos, pesquisamos e pesquisamos. Até que achamos passagens por £9,50 saindo da Paddington Station às 6:30h. Ok, pela economia e horário que chegaríamos em Bath, valeria a pena. Nada que um night bus não resolva.

Embarcamos num sábado com perspectivas chuvosas e 8:30h chegamos na ainda adormecida Bath. Ruas vazias, comércio fechado, aquele arzinho frio que só o sol pra aquecer e aquele cheiro de asfalto molhado. Tudo em um cenário com características romanas. O dia prometia!

Começamos a andar e logo nos deparamos com uma bela paisagem:

avon river
avon river

Já estava esquecendo de falar, mas Bath é uma pequena cidade que fica a 156km de Londres no sudoeste da Inglaterra. É tombada pelo Patrimônio Mundial da UNESCO em função de suas águas termais. Estima-se que os romanos descobriram as propriedades das águas de Bath por volta do ano 50, quando batizaram a cidade com o nome de Aquae Sulis, em homenagem à  deusa celta Sulis, que fora identificada como Minerva, a deusa romana da sabedoria, das artes e da guerra.

Os romanos curtiram tanto a cidade que se instalaram por lá e construíram o que acredita-se ser o primeiro spa do mundo. Um complexo incrível com espaços para banhos quentes, massagem e outros dengos.

Bath, Inglaterra, roman bath
obra dos romanos no século I

Parte do que foi erguido no início da era cristã ainda está lá e hoje abriga um museu muito legal cheio de história e, é claro, águas termais. A entrada custa £12,50 ou £10 para estudantes (não esqueça a carteirinha) e vale muito a pena. É cheio de detalhes e objetos históricos. Alguns cantos têm um cheiro que mistura mofo com umidade que faz você se sentir um verdadeiro romano da época em que Jesus era vivo! =D

Algumas fotos do Roman Baths:

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essa área está cheia de estátuas de imperadores. Esse é Constantino, o Grande.
essa área está cheia de estátuas de imperadores. Esse é Constantino, o Grande.

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Nessa época foram construídos o templo de Sulis Minerva e um conjunto de banhos com finalidades higiênicas e terapêuticas. O templo era um centro de culto a Minerva. Banhos lá eram proibidos. O legal é que o lugar ainda existe! Até hoje o pessoal joga moedinhas e faz seus pedidos.

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uma viagem, não?
uma viagem, não?

A profundidade das águas chega a incríveis 3 mil metros e a temperatura está sempre em 46,5ºC. Infelizmente não é permitido mergulhar nas águas do templo, mas você pode curtir essa experiência no Thermae Bath Spa. Por duas horas de banho você paga £24, mas existem outros planos. Vale conferir.

Saímos do templo e voltamos a andar. A cidade tem outras atrações como o Fashion Museum, a Victoria Art Gallery e o Bath Balloons, mas a gente preferiu ficar só caminhando pelas ruas.

Mais pro fim da manhã começamos a perceber uma movimentação de pessoas vestidas com uma camisa de um time, que até então não sabíamos qual era. Logo descobrimos que se tratava do Bath Rugby. Pelo jeito ia rolar jogo mais tarde.

Dá-lhe, Batão!
Dá-lhe, Batão!

Pra nossa sorte estávamos passando pela região do modesto estádio bem na hora que ia começar a partida. Como bons amantes de esporte que somos decidimos ver de perto qual era a desse jogo estranho que se perde entre o nosso futebol e o dos yankees. Por £5 (estudantes) fomos assistir o glorioso Batão jogar contra os escoceses da nossa querida Edinburgh.

entrada em campo com nuvem cabulosa ao fundo
entrada em campo com nuvem cabulosa ao fundo

Muitas famílias no estádio, cerveja liberada (bons tempos em que podíamos beber no Brasil) e uma torcida não muito animada. Na hora do primeiro gol/touchdown – se alguém souber como se chama o ponto no game me corrija, por favor – a gente comemorou mais do que todo mundo no estádio. =D Após os 40 minutos da primeira etapa o Batão já goleava, claro, e a gente decidiu que a experiência já tinha sido bem aproveitada.

apesar da boa torcida, a nossa vibração era maior que a deles!
apesar da boa torcida, a nossa vibração era maior que a deles!

Saímos do estádio lá pelas 16h já tendo andado por praticamente toda a cidade, mas o nosso trem de volta só seria às 22h. Andamos mais um pouco e logo o sol começou a cair e trazer de volta o mesmo frio de quando chegamos, com o plus de uma chuvinha. Precisávamos de um refúgio e um lugar para passar o tempo. Nada como um pub e uma Guinness pra encerrar mais uma ótima viagem.

Se me permite falar, Bath é linda e você TEM que ir!

;)

 

entrada do Roman Baths com música ao vivo
entrada do Roman Baths com música ao vivo
que tal morar numa casinha dessas?
que tal morar numa casinha dessas?
como eu não sei pintar quadros, fica o registro fotográfico
como eu não sei pintar quadros, fica o registro fotográfico

 

na beira do Avon
na beira do Avon

 

ruelas surpreendentes
ruelas surpreendentes
até a próxima!
até a próxima!

 

Passagens para Bath

Ônibus

Trem

Um fim de semana na Escócia: Parte II – Stirling: um vilarejo incrível e cheio de história

No fim do dia saímos de Edinburgh e fomos para o hostel em Stirling sem esperar muita coisa.

A impressão que tínhamos era que não ia ter nada de bom para se fazer por lá, pois os nossos guias não haviam dito nada de interessante sobre a cidade. Como só iríamos dormir lá para partir para as Highlands (tema do próximo post) no dia seguinte, fomos sem muita expectativa.

Mas é nessas horas que a vida nos surpreende. Stirling acabou se revelando um pequeno paraíso recheado de história, construções incríveis e um ar de lugar mal assombrado.

rua principal da parte velha da Stirling
rua principal da parte velha da Stirling

Como fascinado que sou pelos sombrios tempos da Idade Média, o vilarejo de pouco mais de 30 mil habitantes me deixou fascinado. A cidade não tem nada a oferecer além de um castelo no alto de uma colina, umas poucas ruelas com casas medievais, um cemitério assustador colado ao nosso hostel (que havia sido uma igreja anos atrás) e um centrinho com pubs e algumas lojas.

Mas para quem gosta de viajar para lugares desconhecidos e com poucos turistas, assim como Winchester, na Inglaterra, o lugar é perfeito!

o tempo parou em Stirlng
o tempo parou em Stirlng

Fora toda a questão arquitetônica e sombria, Stirling foi palco de um importante capítulo da história escocesa. Foi ali, sob o comando de “Mel Gibson” William Wallace, que rolou a Battle of Stirling Bridge, ocasião em que os escoceses derrotaram o exército safado do rei Edward I. A pancadaria rolou em 11 de setembro de 1297 e foi uma das etapas da luta dos escoceses por sua independência.

William Wallace em um monumento erguido em sua homenagem
William Wallace em um monumento erguido em sua homenagem

O filme Coração Valente (1995) retrata um pouco dessa fascinante história que é um grande exemplo do quanto a liberdade é importante para quem não a possui. Nem mesmo quando estava prestes a ser decapitado Wallace abriu mão do seu maior sonho: a liberdade de seu país.

Vale assistir ao filme. O vídeo abaixo é a arrepiante cena final:

Após a decapitação, sua cabeça foi pendurada na London Bridge, como um sinal aos traidores e desordeiros. Pendurar cabeças na ponte, aliás, era tradição na Londres medieval.

Saber mais sobre a história da Escócia me fez valorizar muito mais aquele pequeno país, que tão pouco ouvimos falar. A luta deles pela liberdade é linda! Ok, sem mais viagens… minha colega de blog sempre briga comigo quando eu começo a devanear! =p

Se você tiver a oportunidade de ir a Escócia não deixe de visitar essa cidade. A Nah gostou muito de ~Edinbrá, mas pra mim conhecer Stirling foi muito mais marcante! Ou seja, você já tem aí dois bons motivos pra ir pro norte da ilha. No próximo post vamos falar sobre as Highlands, nossa última parada por lá.

Enquanto isso fique com algumas fotos de Stirling!

Stirling

entrada do hostel
entrada do hostel
jardim do hostel
jardim do hostel
prisão
prisão
que tal o clima de filme de terror?
que tal o clima de filme de terror?
não se escutava um suspiro na madrugada...
não se escutava um suspiro na madrugada…

 

Amsterdam: o movimento Provos, a origem da liberdade e algumas fotos

Lembrei hoje que fiquei devendo um artigo sobre a nossa viagem para Amsterdam. A Nah havia falado sobre o hostel que ficamos e sobre a sensacional Heineken Experience. Mas nada foi dito sobre a cidade em si.

Talvez por receio de cair no clichê: “sexo, drogas e bicicletas”, deixamos passar. Mas hoje estava vendo as fotos da viagem e a vontade de escrever logo veio.

Amsterdam é mesmo tudo o que você sempre ouviu falar. Terra da liberdade, das prostitutas, da maconha, das bicicletas, do Van Gogh Museum e dos canais.

van gogh museum. Um "must see" e tanto!
van gogh museum. Um “must see” e tanto!

Mas também é o berço de um importante, porém pouco conhecido movimento anarquista, que mais tarde seria o responsável direto por fazer de Amsterdam o que ela é hoje: os Provos.

” Não podemos convencer as massas, e talvez sequer nos interesse fazer isso. O que podemos esperar deste bando de apáticas, indolentes, tolas baratas? É mais fácil o sol surgir no oeste do que eclodir uma revolução nos Países Baixos (…) O homem médio é um comedor de repolhos, improdutivo, não-criativo, emotivo. Alguém que se diverte fazendo fila nos guichês”.

O trecho foi retirado da primeira edição da revista “Provo”. Está publicado em um artigo que achei na rede escrito pela jornalista Joana Coccarelli, que mais tarde, descobri ser uma grande conhecedora da história e da cultura de Amsterdam. Links ao final do texto.

Uma outra frase da revista que Joana publicou é incrível. Demonstra o desejo do grupo de lutar contra o sistema, mesmo convictos que, cedo ou tarde, fracassariam. “Provo tem consciência de que no final perderá, mas não pode deixar escapar a ocasião de cumprir ao menos uma quinquagésima e sincera tentativa de provocar a sociedade”.

Achei demais! Um tanto quanto uma versão positiva do trocadilho “os meios justificam os fins”. Por que não fazer pelo simples fato de saber que sua ação causou um impacto? Cedo ou tarde esquecido, convenhamos… mas foi algo. Uma tentativa de mudar o que não estava de acordo com o que acreditava.

O humor, a criatividade e o sarcasmo eram as marcas registradas do grupo, que protestava contra a nicotina ao mesmo tempo em que propagava seu desejo em legalizar a maconha.

De acordo com Coccarelli, em 1964 foi lançado o Marihu Project, um plano para reivindicar a legalização da maconha – os Provos viam o cigarro como uma droga liberada – e zoar com a polícia. “Espalharam por Amsterdam centenas de maços pintados à  mão com desenhos fluorescentes, contendo baseados feitos com folhas secas catadas dos parques, algas, palha, pedaços de cortiça e também, naturalmente, a boa e velha cannabis. Concomitantemente, fazem circular cartas com as regras do jogo: ‘Cada um pode fabricar sua Marihu. Cada qual pode criar suas próprias regras, ou omiti-las'”, explica a jornalista.

Uma das formas que encontraram para abrir a discussão sobre a cannabis foi o jogo Marihuettegame. O objetivo era pregar peças na polícia, atraindo-os para supostos locais de venda e consumo da droga. Para isso eles próprios denunciavam o que, na verdade, era chá, comida de gato e especiarias reunidos em um local suspeito. Nada de maconha.

you got me working, working...
you got me working, working…

Ganhava-se pontos quando os participantes eram pegos pela polícia fumando alucinógenos como…….. orégano.

Um dos co-fundadores do Provos, Robert Jasper Grootveld (tão roots que só possui link na wikipedia em holandês), detalhou um episódio épico de Marihuettegame à revista HighTimes, de janeiro de 1990:

“Um dia um grupo de nós viajou de ônibus para a Bélgica. É claro que eu havia informado meu amigo Howeling (um policial) que alguns elementos poderiam estar levando maconha. Em alguma parte da viagem os policiais estavam esperando por nós. Seguidos pela imprensa, nós fomos tirados do ônibus para que uma varredura fosse feita. Pobres policiais… tudo o que eles encontraram foi comida para cães e algumas ervas legais. ‘Maconha é comida de gato’, tiraram sarro os jornais no dia seguinte. Depois disso, os policiais decidiram parar de nos perseguir, temendo cometer mais atos estúpidos”.

A história completa dos Provos foi registrada no livro Provos – Amsterdam e o Nascimento da Contracultura, de Matteo Guarnaccia. Uma das poucas bibliografias sobre os malucos no mundo – quase raro no Brasil pelo que percebi em pesquisa rápida.

O motivo de pouco sabermos sobre eles é porque sua atuação ficou muito restrita aos Países Baixos, exceto por algumas aventuras sem muita repercussão em outros países europeus.

Para não abandonarmos nossa querida Londres é legal dizer que os membros dos Provos estiveram aqui e se envolveram com o meio artístico. A doidona Marijeke Koger foi responsável por desenhar os figurinos de Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band, dos Beatles.

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Provos foi isso e muito mais.

Em pouco mais de uma hora lendo sobre os caras deu pra se interessar cada vez mais pelo livro de Guarnaccia. Entrou pra interminável lista de leituras pendentes.

Mais do que anarquistas, maconheiros e libertários, os Provos também foram responsáveis por transformar a bicicleta no símbolo que hoje ela é na Holanda e por tentar derrubar a indústria do tabaco. Se quiser saber mais, têm umas sugestões de leitura lá embaixo.

Bom, eu havia ficado devendo um post sobre Amsterdam e, pelo que escrevi, quase descumpri meu objetivo. A princípio ia só falar um pouco sobre os caras, mas à medida que fui lendo sobre senti que eles mereciam uma atenção maior. Acho que o viajante consegue se envolver muito mais com a cidade que visita quando lê previamente sobre sua história, cultura e fatos marcantes.

Pra não deixar você na mão quanto Amsterdam pura e simplesmente, fique com algumas viagens fotográficas “made in Holland”.

ainda no trem, a caminho de Amsterdam
ainda no trem, a caminho de Amsterdam
esse carrinho contava com um som poderoso e levava barris de chopp no meio. Só anda se todos pedalarem
esse carrinho contava com um som poderoso e levava barris de chopp no meio. Só anda se todos pedalarem
o clichê
o clichê
muitas ruas são assim
muitas ruas são assim
a alta gastronomia
a alta gastronomia o red light district
o vondelpark
o vondelpark
a arquitetura
a arquitetura
as bicicletas
as bicicletas
dia d
dia d
saunday morning
saunday morning
não podia faltar um desses
não podia faltar um desses
vespas e lambretas não faltam
vespas e lambretas não faltam

Pra encerrar o assunto sobre os Provos, independente dos ideais que os caras acreditavam – que podem não ser os mais corretos para muitos – eles são um exemplo para todos nós, acomodados diante de nossos próprios pesares e lamentações.

Dão um tapa na cara de quem tá dormindo no sofá enquanto a vida passa. Quem sabe eles não nos inspiram a levantar a bunda do sofá pra lutar por alguma causa?!

Mais sobre Amsterdam

Se você quiser ler algo que retrate o lado “verde” de Amsterdam em um estilo mais “jornalão que não quer se comprometer”, leia essa matéria da Folha. Tá tudo ali de forma objetiva e com cara de “fui, mas só fiquei olhando”.

Agora, se você quer uma versão mais nua e crua, não deixe de ler este artigo da Joana Coccarelli.

Mais sobre os Provos

Matéria da revista High Times

A contracultura é laranja fluorescente – por Joana Coccarelli

A rebeldia nasceu na Holanda – por Joana Coccarelli

Resenha do livro Provos – Amsterdam e o nascimento da contracultura

Road trip 2: almoço em Andover e a espetacular Winchester

Como prometido, vou voltar a falar sobre a road trip para Stonehenge.

Saímos de Londres com esse destino em mente, mas abertos e decididos a parar em outras cidades no caminho de volta. Qual? Ainda não sabíamos. Apenas levamos um guia para nos ajudar na escolha.

Nada melhor do que viajar sem um destino definido. As melhores viagens são as do tipo, “vira aqui que parece legal”!

Nosso espírito era esse. Depois de conhecermos Stonehenge rumamos na direção de Londres com a intenção de parar em Andover para comer um fish and chips num pub tradicional.

Antes disso uma breve pausa pra comprar uma caixa de morangos na beira da estrada. Vale dizer que o morango inglês é incrível. Suculento e deveras saboroso.

strawberry fields forever
strawberry fields forever

Andover

Logo chegamos em Andover. Mais uma cidade pitoresca com raízes seculares e população de 52 mil habitantes. Paramos o carro e logo vimos o mapa da cidade. Em 15 minutos seria possível percorrer toda a região central. “Ótimo”, pensamos. Demos uma volta e vimos jovens nas praças, casais passeando, uma antiga igreja e tudo mais que caracteriza uma cidade interiorana.

dá um quadro, não?
dá um quadro, não?
a vida acontecendo
a vida acontecendo
a igreja da cidade
a igreja da cidade

Uma coisa que achei muito legal é que por mais que seja uma cidadezinha, Andover conta com algumas grandes redes de supermercados que existem em Londres além de algumas importantes lojas da capital. Ou seja, não falta infraestrutura aos moradores.

Após o passeio fomos para um pub tomar uma pint (eu fiquei só com uma taça de vinho, pois estava dirigindo e aqui a lei funciona) e almoçar. Foi ali que apresentamos a maior especialidade da gastronomia britânica – peixe empanado com batata frita, ou fish and chips – à  Nica e ao Leo. É um prato simples, mas muito gostoso, principalmente quando você come em um pub secular. Tudo pela experiência.

trip mates
trip mates
curiosidade: nos pubs você precisa pedir e retirar sua bebida no balcão
curiosidade: nos pubs você precisa pedir e retirar sua bebida no balcão

Winchester

Já almoçados e tendo dado aquele tempo pra recuperar a energia pós-almoço pegamos a estrada novamente. O destino seria Winchester, uma cidade localizada em Wessex, sul da Inglaterra. Achamos no guia e nos pareceu bem interessante. Nela está nada menos do que a Távola Redonda, do Rei Artur. Infelizmente, sem fotos. Logo explico.

imagine que a peste negra já matou muita gente nessa ruela...
imagine que a peste negra já matou muita gente nessa ruela…

A história conta que a Távola foi construída no século XIII, idealizada pelo próprio Artur, que não queria que nenhum cavaleiro se considerasse mais importante que o outro. Daí o formato circular. Nos encontros todos ficavam em volta dela em posição de igualdade.

os manos da mesa esférica reunidos
os manos da mesa esférica reunidos

Já a lenda diz que ela foi criada pelo mago Merlin. Enfim, as histórias são diversas e o tema é interessante pra ir além e procurar saber mais.

Infelizmente não conseguimos entrar no castelo onde está a Távola pois já se passavam das 17h e, como boa cidade do interior que é, não existia nada aberto a essa hora.

Mas isso não foi problema, pois Winchester é uma cidade muito mais do que incrível. Sua arquitetura remete aos séculos XI, XII, XIII… Cada esquina que virávamos era uma surpresa. Foi como estar presente em um dos filmes do Monty Phyton.

deu muita vontade de morar numa dessas
deu muita vontade de morar numa dessas

Tudo era incrível… as casas com teto de feno castigado pelo tempo, as ruelas que por lá passavam carruagens levando especiarias ou vítimas da peste bubônica, o castelo que abrigou os Cavaleiros da Távola Redonda, o pub mais bonito que já entramos desde que chegamos no UK, o romântico canal que cruza a cidade, a ruína do século III a.C, que preserva um traço da cidade no período do Império Romano… tudo!

caminhada pelo canal da cidade
caminhada pelo canal da cidade
vale mais que mil palavras
vale mais que mil palavras
resquícios dos tempos sombrios
resquícios dos tempos sombrios
"deixar passar, sem perceber..." - duff's
“deixar passar, sem perceber…” – duff’s
início do canal
início do canal
marchando
marchando
british life
british life

pan

 

viagem no tempo
viagem no tempo
a Bournemouth Symphony Orchestra estava tocando lá
a Bournemouth Symphony Orchestra estava tocando lá

 

 

ruínas do castelo local
ruínas do castelo local
império romano
império romano

Perfeito! E melhor, longe dos olhares dos turistas. Pela primeira vez desde que estamos aqui as pessoas nos olhavam espantadas por estarem ouvindo um idioma diferente.

Winchester é tudo isso e muito mais!

Saímos de lá certos de que conhecemos um dos lugares mais incríveis da Inglaterra e que a trip valeu, e valeu muito.

Depois disso foi só voltar pra Londres, se perder um pouco antes de achar o caminho de casa, tomar um banho e relaxar com umas cervejas em casa.